domingo, 11 de dezembro de 2011

Coral,

Sou feita de conchas. Nem ossos, nem vasos, neurônios ou fibras. Sou concha. Sou cor de madrugada, degradês do mesmo tom. Tenho uns cílios minúsculos, como se houvesse me esquecido de tê-los e, dentro de mim, ecoa mar. Você é concha também. Se não concha, talvez coral. Suas unhas não descamam como as minhas e nem têm cheiro de cravo. Você deve ser coral. Suas orelhas são quentes, cromadas e seu sorriso são infinitas luzes de Natal enfileiradas. Você é coral.
Sinto seus olhos me ultrapassando, perfurando meu crânio, repousando no cacho de bananas em cima da mesa. Ouço você esperando o tempo passar, esperando que ele decida o que será de mim, de você e de todos os caramujos que habitam em nós. Até lá, nos cabe decretar se vale a pena desembaraçar o cabelo, as aftas, os relacionamentos... Eu te desembaraçaria até o fim dos tempos.

5 comentários:

  1. Quanta sinestesia, me sinto estonteado. Amei, de verdade. :D

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  2. Se ao menos a aula de histologia considerasse essas coisas....
    Mas o que me ganhou foi o do garoto do ônibus. Aquele final meio... sem final me deixou meio puto por ter lido tudo aquilo, mas no final valeu a pena.

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  3. Acho que pra manter o ritmo, poderia ter terminado em "...Eu te desembaraçaria até o fim dos tempos. Pois voce eh coral e eu, concha." Muito bom!!

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  4. Acho que pra manter o ritmo, poderia ter terminado em "...Eu te desembaraçaria até o fim dos tempos. Pois voce eh coral; e eu, concha." Muito bom!!

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