terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A gente se encontra, garoa um na janela do outro, isso e aquilo, mas se a paciência finda é fim pra mim e é fim pra você.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Patrão,

Vive-se bem aqui. A pão e leite. A trêm de hora em hora pra Ubatuba. À sopa fervente, descente pela garganta tal qual aconchego. Mas é brejo. Coração manda-chuva, eu a-Deus-dará, desempregada, uma pontada de dôr-de-dente no fundo do estômago, minhas medalhas, orgulhosa, ornamentada, cansada, postada de cócoras, a cabeça entre os joelhos, dona de coisa nenhuma, repetitiva. Desde que o samba é samba, é assim. Eu sinto coisas que ninguém mais sente, planto margaridas, floresce tabaco. Mas não é por isso que você vai se livrar assim não, facinho assim não, fluido assim não, vai penar, quero só ver fugir da minha mandinga, esfoliar o cheiro do meu xampu do seu lençol, da sua casa, da cidade inteira. Te amordaço, te mato, te amo. Sou enlouquecida, tô que faço tudo por você, uma otária, amasiada, conjugada, rota de ciúmes. Endividada, mas principalmente inválida, estirada na sua cama há dias, descalça, amarrada pelos cabelos no travesseiro, seu sopro secando o suor, uma estrela em cada olho, uma Lua, cauda de gelo, um farol, comendo seu sorriso com o meu, minha unha transeunte, cortada no talo, no seu peito, desembaraçando as costelas e as mechas. Quero ver quem me tira daqui. Faço um bico deste tamanho, me agarro nas pernas da mesa, boto fogo em tudo. Quero ficar. Contigo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Conjuntamento:

A vastidão e a quentidão que são suas costas deslisando pelos meus dedos, os pés embaraçados, o desarranjo da casa inteira. Atravessamos o tempo de ponta a ponta, deixamos nossa circunferência no tapete da sala. O marasmo. A goiaba. O cheiro do cigarro. Mesmo quando você não está. Mesmo que ninguém mais sinta. Eu saia abrindo as janelas, tentando entender: o chão gelado da cozinha, como é que eu não precisava de mais nada? Puxava um suspiro colado na sua nuca, me apropriava do cheiro até engasgar de ocitocina. A pressão baixíssima. Do mesmo tamanho da covardia, teci um empaixonamento tal que não sobra querer pra mais nada. Sou velha, minhas artérias não se aguentam, eu bem que avisei, vou infartar. Um dia desses, enquanto eu puxo os seus cabelos, a aspiração vai descer pro coração, vai me dar um sopro, uma bolha de ar, eu vou acabar morrendo. Uma inevitabilidade, paciência. Estou vivendo um tu-centrismo perpétuo, glorioso, uma maresia, um estrago, um mimo, os rostos colados, um silêncio ecoando dentro de mim (a martelada no peito), a televisão ligada, seu sorriso feito deboche. Me rendi. Decidi que percebi: só ilustro nós dois em forma de substantivo.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Eu tô querendo cair nos seus braços. Descamisado. Meliante. Eu tô querendo ser aquele violão. Xiitamente, meticulosamente, os olhos opacos, a gasolina e a faísca. Eu quero ser THC na sua boca, quero te tirar pedaço, morar na sua cama, o degradê da gripe, os pés limpos de tão velhos que estamos, a coluna curva na fôrma do sofá. Quero morrer de você, de supetão e batom no nariz. Quero me empanturrar, quero te enciumar, eu e tu. Somos o sossego, o mormaço saindo pela persiana, o céu enorme. O coração louco de pedra, molenga, liquidado, mulherengo e ingrato. Meu lindo. Meu amor. Tenho cá pra mim que agora sim. Agora o banheiro alaga, e mais, você me rouba o lençol todo, a sua silhueta na frente da televisão, que fome, sua boca de homem, você me puxa pela perna, o sorriso comprido, esse tanto de mosquito, a má acostumância se mudou pra dentro de mim. Fica a mansidão, a roxidão, ficamos nós dois. Eu fico esperando a desordem diária de te ver. Eu morro de saudades, de certezas, morro de amor, eu bebo tanto... É efeito da paz. Da impaciência.