domingo, 4 de dezembro de 2011

Venho me sentindo só. Tão só que o grito sai pra dentro. Só de escorrer por detrás de portas, de descascar papel de parede e ter calos nas pálpebras. De amontoar talheres no escoador tão próximos um ao outro que quem os vê pensa que estão de mãos dadas. Venho me sentindo num domingo infinito, o coração sufocado por uma sacola plástica, ao invés de batimentos, ruído de lava louças, mãos e pés atados, coaguladíssima por dentro, olhos empedrados. Não é tristeza, é desesperança. Desesperança, cabelo embaraçado e olhar cético de quem já desistiu há muito de esperar mudança. Se ao menos meu microondas esquentasse a comida e não só o prato, se minha tireóide funcionasse corretamente e eu soubesse que esforço algum jamais será em vão, talvez eu me conformasse. Mas eu não me conformo. Se as pílulas do dia seguinte deixassem meu endométrio em paz, se eu arranjasse uma forma de finalmente sair dessa cidade, se arranjasse uma religião, uma vocação, enfim... (...)

6 comentários:

  1. Eu queria falar com você mas não sei como... parece que a tecnologia faz é nos afastar. Não é por isso, não não. Eu conheço você e, em certo ponto, minha história se mescla com a sua. Eu sei os detalhes desse encontro de trás pra frente, mas acredito que você ainda os desconheça. Mas não posso me aproximar, não agora. Quem sabe um dia te conto tudo.

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  2. De fato, escrevi uma carta pra você. Mas não posso, não quero, não deveria entregar. Ela permanece guardada, e explica porque te vi em outros olhos, porque aquela voz era sua. Como eu disse, quem sabe um dia...

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  3. Tão lindo, tão seu, que eu só queria te dizer que acho que te entendo. Mas isso, é claro, é você quem tem que decidir.

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  4. Li umas três vezes só pra confirmar o quanto me senti mais leve com isso. Obviamente não gosto tanto do que o texto quer dizer quanto do próprio texto em si, sempre excelente. Espero que a gente possa melhorar isso um dia...

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  5. "A nossa despedida tinha de ser assim - silenciosa"

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  6. Acompanhar você é como galactoposia. Meus comentários anônimos não parecem surtir efeito. Até porque, admito, é uma maneira extremamente covarde e equivocada de tentar me aproximar. Eu tenho muito pra te dizer, mas não posso agora, só precisava fazer sentir minha presença. É alguma forma de grito desesperado, como quem diz 'já estou chegando - preciso botar tudo pra fora'. Comecei a escrever uma carta que está mais se aproximando de um livro. Não é uma declaração, nem fala sobre amor, paixão, ódio, ao mesmo tempo que fala de tudo isso sim. Não te envolve ao mesmo tempo que descreve sua sombra com restrita perfeição. Você não é o alvo de nenhum sentimento, é mera dissociação. Quem sabe um dia ela chega em suas mãos. Desculpe ainda estar mascarado assim, espero que você entenda quando eu te explicar. Até logo Helena.

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