O cinto de segurança
estala. O seu. O meu ainda me segura contra o banco. Minha perna
esticada e o pé no freio, porque eu não tenho intenção alguma de
me demorar. Não por cansaço, medo de sequestro, nem por querer te
confundir. É a gasolina que anda cara e me dá um tropeço na
respiração ter que ligar e desligar o carro toda vez. Mentira. É o
seu olhar intraduzível, seu pouco caso, seus cílios imensos e esse
sorriso de ai-meu-Deus. Mentira. Eu até te seguro pelo braço, rasgo
sua barriga com as unhas, tranco as portas, espalho gasolina em volta
do carro e acendo um fósforo, mas assim que eu abro os olhos, a
porta bate. Um pouco de você permanece: cinzas no meu cabelo, gosto
de fuligem e um cheiro que não me pertence nas costas da minha mão.
É aqui até onde me atrevo.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Me parece que o coração
confunde força com insensibilidade. Sentimento algum passa do átrio
para o ventrículo. Se me permite, vão todos eles direto ao pulmão,
derramam-se nos lençóis brancos, condensam. Sentimento condensado,
para mim, é carência. Se quer saber, acho que convém franqueza:
meu coração é halterofilista. Dito isso, não sou desapegada, sou
distraída. Sou errante e não pretendo remediar isso.
Cometo o mesmo erro constantemente com todo o receio de ser julgada.
Me erro pros lados de gente que não vai viver por muito tempo, que
não vê conforto em formalidades, contrato, rótulo, acordo, ciúmes,
que conforme o tempo passa me quer menos enquanto eu quero mais,
gente que fala pouco, pensa pouco, deixa tudo subentendido, manda
minhas inseguranças às favas, porque para essas gentes, o que
importa mesmo é garantir a dose diária de libélulas na boca do
estômago.
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