quinta-feira, 21 de junho de 2012

Helena,

Agora me diga quem vai saber tão bem de você. Qualquer um pode serpentear a serpentina que laça seu coração e mergulha suas angústias no suco de cajú, mas ninguém te conhece tanto quanto eu. Ninguém vai ouvir os gemidos que eu ouvi, nem comer sua comida insossa, ninguém vai adivinhar que você tem uma agonia imensa de carinho na perna, que fuma escondida e flerta com meus amigos. Ninguém nunca vai saber, como eu sei, que seu medo de avião só não é maior do que seu medo de ficar aqui pra sempre, que você passa batom quando está sozinha em casa e pensa em espanhol sem ao menos saber conjugar um verbo. Eu sei dos seus orgasmos fingidos, sei do tanto que você odeia números pares, sei dos seus caprichos, sei que você esfrega a unha nos lábios quando está tomando alguma decisão. Mantenho a conta de todos os livros que você optou por não terminar de ler porque odeia despedidas, perdas, porque tem medo de se decepcionar. Você tem um encanto que mais parece bruxaria. Você é pura sinestesia. Você é insensível. Me diga então quem vai te entender.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma Carta Aberta:


Quando estamos separados eu esqueço porque não podemos ficar juntos. Me dói mais que tudo te deixar infeliz. Vai contra a sua natureza, você é uma enorme lua minguante - sorrindo, deitada ao meu lado. Mas não poderia ser diferente. Eu me sinto suja, cruel, solitária. Se você ficasse bem eu ficaria também. Eu seria só saudades, só carinho, sem tristeza.
Eu quero me casar com você. Não agora, mas eu quero. Não te peço que me espere, essa esperança pairando no ar é intoxicante. Eu quero solidão. Quero me encontrar no meio de tantas Helenas que eu quero ser. Preciso de um tempo de nós. Não estávamos bem. Por mais que agora a memória remeta aos momentos maravilhosos, nós estávamos apagados. Como eu te disse: parecíamos aqueles episódios de seriados em que não há história, só recordação de temporadas anteriores. Aquilo me fazia mal e eu comecei a te afastar. O amor escapulindo por entre meus dedos. Antes que fosse tarde eu agi. Agi porque não suporto a ideia de deixar de te amar. O que eu sinto em detrimento da (nossa) felicidade. Um sacrifício pelo qual eu nos obrigo a passar porque estou fraca. Estou com a cabeça cheia de pensamentos que não são palavras, ideias, não têm forma, só são. Me desgasta tentar entendê-los, tentar lidar com eles, não fazer nada além de sentir. Eu sinto que te amo profundamente, mas não nos pertenço mais. Eu sei que você entende mas não concorda. Eu sei que você precisa de qualquer coisa que faça a dor passar e, Deus sabe, se eu pudesse arrancá-la daí e segurá-la comigo até... Até...

sábado, 9 de junho de 2012

Eu não sei mais. Pra provar isso, abro meu peito com um bisturi, aqui está, ao invés de coração, um imenso ponto de interrogação. Retirem imediatamente as expectativas sobre mim, se eu arranjar alguma forma conotativa de falar sobre a minha dor, corro o risco de entendê-la e, honestamente, talvez eu prefira não saber. Talvez eu prefira essa transa sado masoquista comigo mesma, me punir pelo que eu sinto e pelo que eu deixo de sentir. Talvez formem-se calos que engrossem minha pele e aí, talvez, eu pare de me importar. De tanto pensar e de tanto deixar de pensar, de tanto fugir e chorar e chorar e chorar, num ímpeto peguei meu livre arbítrio e joguei-o pela janela, abri o gás e tranquei a porta, dei lhe uma overdose de vitamina C. Até que eu me decida, minha respiração fica eternamente presa. Até que eu me decida, o tempo fica estático, o sangue que devia ser bombeado pelo maldito coração não flui, todas as minhas células em greve de fome, um luto precoce.