quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Conjuntamento:

A vastidão e a quentidão que são suas costas deslisando pelos meus dedos, os pés embaraçados, o desarranjo da casa inteira. Atravessamos o tempo de ponta a ponta, deixamos nossa circunferência no tapete da sala. O marasmo. A goiaba. O cheiro do cigarro. Mesmo quando você não está. Mesmo que ninguém mais sinta. Eu saia abrindo as janelas, tentando entender: o chão gelado da cozinha, como é que eu não precisava de mais nada? Puxava um suspiro colado na sua nuca, me apropriava do cheiro até engasgar de ocitocina. A pressão baixíssima. Do mesmo tamanho da covardia, teci um empaixonamento tal que não sobra querer pra mais nada. Sou velha, minhas artérias não se aguentam, eu bem que avisei, vou infartar. Um dia desses, enquanto eu puxo os seus cabelos, a aspiração vai descer pro coração, vai me dar um sopro, uma bolha de ar, eu vou acabar morrendo. Uma inevitabilidade, paciência. Estou vivendo um tu-centrismo perpétuo, glorioso, uma maresia, um estrago, um mimo, os rostos colados, um silêncio ecoando dentro de mim (a martelada no peito), a televisão ligada, seu sorriso feito deboche. Me rendi. Decidi que percebi: só ilustro nós dois em forma de substantivo.

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