quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Quando ela chegou - e ele sentiu sua aproximância - a recebeu como uma velha amiga, de braços abertos, paralisados. Tinha para si que a primeira providência a ser tomada fora daquele intumescimento de corpo seria dançar. Seria amarrar os cadarços, limpar as orelhas, coçar as costas. Caprichos da vida, não faz mal. Faria o que lhe fosse permitido. Mas o faria espalhafatosamente.
A kriptonita estava instalada dentro do próprio corpo. Aprisionado. Encarcerado. ELA era camisa de força, máscara de ferro, tetraplegia. Liberdade é se descarregar do fardo cimentado que é cabeça, fígado, escroto, coração. Liberdade é quando cessa a pulsação. Pára corpo, pára luz e pára a mente. Liberdade é quando caem os cabelos, as entranhas apodrecem, fica o vazio do som da própria voz (como era sua voz?). Vira-se memórias de si mesmo. As memórias próprias e dos outros. Liberdade é tal como dormir, espairecer, como deitar no chão, olhos fechados, anestesia consentida.
Tivera o tempo infinito. O rancor infinito. As pragas ecoaram dentro de si - “por que eu?” -, agora passadas, transitórias, misteriosos e retóricos vãos. Não era nada pessoal. Antes fosse.
No meio do recheio do raciocínio, fim. Morreu. Virou pássaro. Vai em paz.




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