Sinto um de repente.
É calmaria, mas é
também afluxo, torrente.
É onda espumada,
opaca, salgada, daquelas que puxam pro fundo e te dão somente o tempo
necessário de subir à superfície e resgatar oxigênio para que
você continue vivo. Isso porque em intervalos de cambalhotas, olhos
arregalados e joelhos arranhados a vida fica em suspensão, esperando
para ver se ocorre ou não. É bonança pura. Basta que você encoste
os lábios em mim. A onda nasce no fundo do meu estômago, me puxa
pra dentro e me afoga. Basta a mistura de suor, seus dedos abrindo
caminho, nós nadando contra a corrente, a chuva de cinzas. Basta
ainda que você me segure no colo, morda meu pescoço, a onda quebre
contra a parede, despenquem os armários, eu caia na sua cama, o
bater de talheres que entra pela janela vire calor, vire sorriso,
vire grito.
Antes que eu morra
afogada, antes que eu esqueça meus sapatos, antes que sua respiração
asmática se acalme, antes que você ligue o ventilador, antes que
habite minha mente...
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