domingo, 16 de setembro de 2012

Barco de papel,


Sinto um de repente.
É calmaria, mas é também afluxo, torrente.
É onda espumada, opaca, salgada, daquelas que puxam pro fundo e te dão somente o tempo necessário de subir à superfície e resgatar oxigênio para que você continue vivo. Isso porque em intervalos de cambalhotas, olhos arregalados e joelhos arranhados a vida fica em suspensão, esperando para ver se ocorre ou não. É bonança pura. Basta que você encoste os lábios em mim. A onda nasce no fundo do meu estômago, me puxa pra dentro e me afoga. Basta a mistura de suor, seus dedos abrindo caminho, nós nadando contra a corrente, a chuva de cinzas. Basta ainda que você me segure no colo, morda meu pescoço, a onda quebre contra a parede, despenquem os armários, eu caia na sua cama, o bater de talheres que entra pela janela vire calor, vire sorriso, vire grito.
Antes que eu morra afogada, antes que eu esqueça meus sapatos, antes que sua respiração asmática se acalme, antes que você ligue o ventilador, antes que habite minha mente...

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