Já perdi a conta de
quantas vezes calhei de perder a carona propositalmente esperando que
você me acompanhasse até a parada. Eu esperava ainda que talvez
você me levasse em casa, deitasse ao meu lado na cama, puxasse o
edredom por cima das nossas cabeças e decidisse casar comigo ali
mesmo. De mãos abanando, eu acabava descendo a setecentos sozinha,
ziguezagueava as casas tropeçando nas raízes e nos meus soluços.
Sentava no banco do ônibus e descascava a película da janela. Nem
bem eu fechava a porta de casa atrás de mim e eu já tinha te
perdoado.
Eu jamais, nunca, de
maneira alguma te pediria para que fosse comigo. Para mim era
evidente: você tinha toda a obrigação do mundo de saber. Eu
cometeria (como cometi) suicídio quantas vezes fossem necessárias
para chamar a sua atenção. Eu era (como sou) vertigem de
sentimentos. Você nunca vai saber (como não sabe) das minhas
intenções ou do que eu exijo de você. Nem você e nem ninguém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário