Meu
pescoço continua manchado mesmo que eu esfregue pentes finos,
maquiagem, água fria, água quente... Estamos um ao lado do outro,
os dois salpicados de roxo. Estou pendurada em você, estou na
beirada da sua cama e estou descalça. Seu gosto salgado, os lençóis
encharcados, o colchão nu, as luzes acesas, meus olhos fechados,
descascando seu ílio, dobrando os joelhos, respirando mecanicamente
(como se faz? Inspira, expira, inspira, estoura, insânia, escape,
instável, exala, inspira, expira). Encosto a cabeça na janela
esperando que você esteja me olhando, porque uma das coisas que eu
mais gosto no mundo é quando você olha pra mim. Vou embora
esperando que você me dê um beijo a mais do beijo a mais que você
me deu. Entro no elevador, coloco o cabelo por cima dos ombros, deito
na minha cama, respiro, inspiro, fecho os olhos, tento me recompor,
tento me proteger, tento parar de competir com você, tento ler
incentivos no seu descaso. Mas você é silêncio. Eu sou também.
Corra, então, salve-se! Eu não sou bom partido, não sou
equilibrada, não vou te fazer feliz. Eu sou louca varrida, tinha que
estar internada, tinha que estar amarrada, tinha que ser exilada.
Sozinha, quando meu coração me pertence, eu sou normal, sou forte e coerente. Agora, quando você me apareceu, quando encontrou
a brecha, quando me roubou... Aliás, não se chama de coração
roubado o que foi entregue em uma bandeja ainda pulsando. É por isso
que eu imploro: corra!
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