Vamos embora para
Bogotá: usar camisinha, deixar o cabelo crescer, que o vestido
leve-leve se vá, que vire comida de peixe, para que a gente deite no
asfalto do estacionamento, desperdice cervejas, e o lamento das
cigarras vire só música, você tire os sapatos para entrar no meu
coração, e dedilhe os dedos, e pese a cabeça, dê nomes comuns
pros seus filhos, e me ensine a cantar, me ensine a dançar, desloque
o joelho, encha a banheira, ilumine com esses olhos, de braços dados
com outra mulher, esperando a hora chegar, ilumine a rua, e de vez em
quando diga pra mim que não sabe como eu consigo, que se fosse você
o carro já teria capotado, e nós dois, desentendidos, chegamos na
Colombia, e eu prefiro mesmo que você fume, ganhe o sustento de
poesia, tenha a família mais linda do mundo, porque eu sou
espectadora, tenho vocação pra estágio, pra data de validade,
apegação, pra ser sua, deitar no seu colo, exagerar, e repetir, sou
saudosista, ingrata, deficiente em vitamina D, não sou flor, nem
tomo Sol, sou zelo, e sabe-se Deus de onde você conhece o cheiro do
meu xampu, e pra quê tanta melancolia, tanta pressa, que se exploda,
vou ter um ataque cardíaco, feche a porta atrás de mim, leia tudo
isso de um fôlego só: é assim que eu me sinto.
expurga
ResponderExcluirpurgante
ResponderExcluir