segunda-feira, 1 de outubro de 2012


Vamos embora para Bogotá: usar camisinha, deixar o cabelo crescer, que o vestido leve-leve se vá, que vire comida de peixe, para que a gente deite no asfalto do estacionamento, desperdice cervejas, e o lamento das cigarras vire só música, você tire os sapatos para entrar no meu coração, e dedilhe os dedos, e pese a cabeça, dê nomes comuns pros seus filhos, e me ensine a cantar, me ensine a dançar, desloque o joelho, encha a banheira, ilumine com esses olhos, de braços dados com outra mulher, esperando a hora chegar, ilumine a rua, e de vez em quando diga pra mim que não sabe como eu consigo, que se fosse você o carro já teria capotado, e nós dois, desentendidos, chegamos na Colombia, e eu prefiro mesmo que você fume, ganhe o sustento de poesia, tenha a família mais linda do mundo, porque eu sou espectadora, tenho vocação pra estágio, pra data de validade, apegação, pra ser sua, deitar no seu colo, exagerar, e repetir, sou saudosista, ingrata, deficiente em vitamina D, não sou flor, nem tomo Sol, sou zelo, e sabe-se Deus de onde você conhece o cheiro do meu xampu, e pra quê tanta melancolia, tanta pressa, que se exploda, vou ter um ataque cardíaco, feche a porta atrás de mim, leia tudo isso de um fôlego só: é assim que eu me sinto.

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