quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Meu instinto materno (2008),

A menina corria pelo jardim, a boca entreaberta e as bochechas rosadas. Ria desesperadamente, faltavam-lhe os dois dentes da frente. Sentou-se desajeitada no colo do pai, deu-lhe um beijo na bochecha. Expeliu os sapatos dos pés e passou os dedinhos na areia. Correu novamente e voltou com uma boneca habilmente maquiada de hidrocor. "Rosângela o nome dela", anunciou. Um metro e treze quilos de hiperatividade. Andava de um lado para o outro. E falava. Vocabulário impressionante, palavras que nem eu conhecia. Nem eu e nem mais ninguém. Falava e falava. Amassava o rostinho na janela, fazia caretas, depois ria e se escondia dentro dos armários. Logo abaixo da barra do vestido, via-se bandêides coloridos. Tinha os joelhos remendados, ralados e vermelhos. Corria novamente. Risada gostosa, cabelos escuros. Por fim, deitou estirada no chão, sorriu e fechou os olhos.
- Vou colocá-la na cama.
A mãe (e minha melhor amiga) sumiu pelo corredor. Os olhos dele brilharam por uma fração de segundo. Enfiei treze amendoins na boca e mudei de assunto.

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