quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Gustavo,

Esqueço os olhos em cima de você, me afogando no salpicado de nuvens que nos cobrem, feito talco. Você me toca a pele tão de leve que eu quase não sinto. Arrepio, mas não me movo. Fico cheia do Sol em mim, uma hemorragia de luzes que guardo na boca do estômago de tanto bagunçar a ordem nos pêlos loiros do seu braço. Se eu arranjasse de onde tirar forças, apertava sua mão tão forte na minha, que eu acabaria por quebrar nossos dedos, grudaria seu ouvido no meu coração para que você acreditasse quando eu digo que ele não bate mais, de tão sereno e deixaria a queimadura de mormaço contornar a forma dos seus lábios nas minhas costas.
Suas pernas estendidas têm cor e forma de horizonte e, me parece que quando você senta e olha fundo em mim, sua íris vira mar e grama ao mesmo tempo e, n'um bater de pestanas te sai um som de ré maior acompanhado de sinos. Isso quando você gosta de mim, aliás, porque quando não gosta, fica feio feio. Te nascem umas brotoejas pela cara toda, seu cabelo cria cor de musgo e sua voz não sai direito, parece que fica presa, embolotada em meio a quarenta e cinco quilogramas de carne moída. Já quando gosta, ah, aí você arranja de ter um cheiro tão bom, que eu não deixo de sentir nem quando você vai embora, um sorriso que me arde os olhos e um jeito de pedir pra que eu vá com você que, por nada nesse mundo eu diria não.
Depois do almoço, um pouco antes de dormir, enquanto você ainda sente que eu arranho sua nuca, te saem uns espasmos de quem vai sonhar com coisa boa, vai ter uma epifania e acordar, de boca aberta com uma estrela entrando pela janela, para, na tarde do dia seguinte, por não ter dado um jeito de dormir antes das três da madrugada, deitar em cima das letras de forma no meu caderno de Física. Você sempre tem exatamente o gosto que eu quero sentir e as palavras que eu preciso ouvir (diz mesmo quando não quer). Nunca falha, é como se me jogasse guache vermelha no rosto, uma tarde inteira de sol que cobrisse minhas bochechas. Acaba por me deixar sem jeito, sem ter o que esponder, procurando Chico Buarque para parafrasear quando, na verdade, bastaria dizer tudo aquilo que, por vezes, já ensaiei à frente do espelho. Bastaria, até mesmo, dizer que eu poderia viver naquele momento para sempre... Para ser honesta, seria insuficiente.

Um comentário:

  1. Adoro suas histórias de amor, porque com um punhado curto de palavras você escreve uma vida inteira, ou pelo menos, me dá de presente a possibilidade de visualizar toda uma vida. Que não é minha, mas me dá esperanças mesmo assim, porque é real.

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